"As piras de Angel..."

Dedico este blog ao Amor e às incógnitas da vida, responsáveis pelos mais belos insights. Caminhando rumo à evolução do corpo, da mente e da alma, eternamente...

"Espíritos fortalecidos de paz deixavam de chorar, neste tempo, grandes energias passeavam aos corações. Fomos lançados ao infinito..."

domingo, 3 de março de 2019

A Grande Tempestade



03.03
"Três do três" como ela dizia..

Não há dia melhor pra falar dela do que o dia que sempre foi dela. Minha mãe!

Quanto à tempestade...
É algo muito curioso.

Engraçado que sentimos de fato quando uma tempestade virá... o vento.... as nuvens...o feeling, há coisas concretas que anunciam sua chegada.

Há também outros tipos de tempestades...
Um sentimento de que uma delas estaria a chegar.

Pensando no caso da minha mãe...
Apesar da doença que ela tinha... ela estava bem quando senti isso.
Tanto que por um momento ao pensar que pudesse ser algo com ela, ja que ela era a única pessoa doente ao meu redor, tirei isso da cabeca pois ela estava muito bem... eu achava mesmo que não seria nada com ela... ou talvez fosse o que eu queria acreditar. Não sei.
Tinha certeza que seria outra coisa que não envolvesse minha mãe.
Pensava... será algo com a minha saúde? Com meu casamento? (sem motivo algum pois estava tudo bem), o que seria aquilo que eu sentia? Algo que eu não fazia ideia!

Como uma angústia.
Um aperto no peito.
Mas extremamente forte. Não apenas uma angústia inexplicável e passageira que vem em um dia e passa (como também já tive as vezes), mas uma angústia que durou muitos dias... talvez poucos meses...
Uma angústia intensa de algo que ainda estava por vir, que mesmo eu estando alegre e bem todos os dias, ela estava ali presente... Era como se eu sentisse a dor de algo que nem ocorreu ainda sem saber do que se tratava.

Lembro-me um dia que saí tomar um café com uma amiga. Contei isso a ela, desse incômodo... usei até mesmo a palavra "tempestade" para me referir a algo que eu sentia que ocorreria.

Algo ruim.
Algo que vem trazendo o caos... tristeza.. perdas.

Mas assim como a tempestade... senti também que haveria uma calmaria.
A paz de uma calmaria... vinda após essa tempestade.

Era muito claro isso pra mim...
Uma futura tempestade seguida de uma calmaria.

Era o que eu sentia.

Como uma certeza... e por isso me assustava... sentir essa certeza. Era tão óbvia e intensa que nem mesmo a questionava,  nem dava margens para eu pensar que seria algo da minha cabeça.
Me lembro mais ou menos quando foi isso... lá por agosto de 2017, que foi a data da minha conversa com minha amiga, mas já estava sentindo antes.... só não lembro o quanto era esse antes.

Minha mãe...

Meu exemplo.
Minha inspiração.
Minha paz.
Meu colo.
Meu tudo!
Éramos parecidas não somente na voz e no rosto...mas na sensibilidade. Sempre fomos pessoas mais sensíveis, embora também ela fosse muito forte. Que mulher forte, boa e positiva.... jamais vi igual. Que pessoa boa... jamais fez mal a alguém, a nada, eram outros que faziam mal a ela. Tanta força e alegria de viver... sempre... sempre. Desde pequena eu a via assim.
A vida as vezes não parece ser justa não é? Leva pessoas tão boas e puras embora tão cedo... outras não tão boas assim aqui permanecem anos...
A justiça aqui é algo independente da realidade das coisas... das ações.
Não é como gostaríamos que fosse.

A tempestade...

Minha mãe, que estava super bem, de repente ficou mal em novembro de 2017 e deixou este plano no dia primeiro de julho de 2018, praticamente 1 ano depois daquela conversa com minha amiga, quando senti que uma tempestade viria.

E de fato foi intenso.
Só pode ser este fato a tempestade que eu sentia.
Uma baita de uma tempestade.

Daquelas de sentir um gelado percorrendo o corpo dos pés a cabeça na conversa com o médico.
Daquelas tão intensas que mal se podia chorar, e sim seguir com força, ou pelo menos tentar... como aquelas árvores resistentes que balançam ao vento procurando não desistir.
Eu estava grávida quando passei por momentos angustiantes com minha mãe mal no hospital.
A pior e a melhor fase da minha vida ocorrendo ao mesmo tempo.

Da pessoa que sempre foi a mais importante pra mim partindo.... e outra que hoje é a mais importante, surgindo.
E mesmo assim eu sorria... de coração, eu sorria. Por ela, pela minha filha que dentro do meu ventre estava, por aqueles que amo... pela Vida.
Nem tudo é como a gente quer. Mas é preciso coragem pra enfrentar de braços abertos o que quer que a vida nos traga.

Jamais me esquecerei daqueles últimos instantes de vida... naquela tarde de domingo.
Aparentemente sem consciência... uma respiração forte, profunda... que foi aos poucos se transformando em uma respiração rápida e seca. Era possível ver o corpo físico morrendo... estava próximo do fim... era como se ela, sua essência... já não mais estivesse ali. Era possível sentir que seu coração pararia a qualquer instante... eu estava segurando em uma de suas mãos quando a última respiração ocorreu. O último suspiro. A última batida daquele coração imenso e maravilhoso.

Eu gostaria de naquele momento após sua partida, ter ficado ali quietinha de olhos fechados ao lado dela, mas a razão tomou conta de mim e imediatamente saí do quarto para avisar os enfermeiros daquilo que já era esperado. E procurei manter todos a calma. Não fiz isso por mim, mas pela minha família que ali estava. Eu não queria que houvesse desespero. Mas me arrependo de não ter seguido a vontade do meu espírito... uma vontade simples. De no silencio, ficar quietinha e orar por ela naquele momento. Mas eu também queria cuidar dos outros. Mas já foi.

No dia seguinte, me deitei na cama assim que cheguei em casa do cemitério. Era possível ver da janela aquele fim de um dia quente e lindo de sol, um dia ruim de sentimentos como nada igual, porém belo aos olhos. Então fui dominada por uma angústia profunda, minha alma se encontrava muito, muito abaixo do chão.
Curioso que aquele terrível sentimento não durou muito. Durou minutos na verdade.
Porque fui novamente dominada por um sentimento... mas um sentimento oposto.
Um sentimento de força.
Imediatamente me veio a imagem da minha mãe na cabeça... dos momentos ruins em que ela viveu, e que mesmo diante deles ela estava lá com toda a sua força. Ela poderia sim estar triste ou chorando, mas estava lá firme e forte, nunca a vi deitava por um momento depressivo. Ela era de carne e osso, sofria sim, mas estava produzindo... inventando algo para ocupar a mente, ou porque tinha filhos e tinha que segurar a situação por eles.

Levantei da cama, haviam louças a lavar... uma cama pra arrumar e uma vida a continuar.

Desde aquele dia segui da mesma forma.
Sou infinitamente grata àquela força desconhecida!

A calmaria...

De fato a calmaria se instalou... por uma paz inexplicável que senti e que ainda sinto. Longe de ser pelo término de um sofrimento por alguém doente num hospital, mas por algo que não sei explicar.
Eu não conseguia viver o drama de um luto. Ele simplesmente não entrava nos meus sentimentos.

E assim a vida continuou...

Minha filha nasceu. E mesmo com uma saudade absurda dela... com lágrimas algumas vezes, eu amamento tranquilamente minha filha nas tarde dos dias...
Saudade infinita, o que mais me dói é além de saber que não a verei mais por toda a minha vida... é o fato dela ter perdido sua vida aqui... todos os planos... as viagens... os encontros que teria... tudo ali encerrou.
Mas é assim. Bem que poderia não ser.

Curioso foi eu ter sentido toda essa chuva e ventos que estavam por vir... Como é possível?

A vida algumas vezes foge de nossas escolhas... não há merecimento aqui, nem justiça... não da forma como deveria ser. Há coisas além de nossa compreensão. Nosso cérebro e mente não captam tudo, muito menos o TODO.
E apesar de tudo, de toda aquela tempestade horrível... me sinto como aquela árvore que balançou, balançou... perdeu folhas e galhos... mas jamais deixou-se cair.