"As piras de Angel..."

Dedico este blog ao Amor e às incógnitas da vida, responsáveis pelos mais belos insights. Caminhando rumo à evolução do corpo, da mente e da alma, eternamente...

"Espíritos fortalecidos de paz deixavam de chorar, neste tempo, grandes energias passeavam aos corações. Fomos lançados ao infinito..."

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Minha inspiração...



A melhor fase da vida...

Fase em que tive a bênção de ser mãe.

Filha, gratidão por tudo isto que estou vivendo...por todos os melhores sentimentos... gratidão por você "simplesmente" existir!

A melhor fase da vida...

É um paradoxo pensar que me encontro justamente nesta fase sem a presença da pessoa que sempre foi a mais importante da minha vida, minha mãe.

Minha mãe...
Não há palavras para descrever esta mulher. Dedicou sua vida à sua família, à seus filhos, que eram seu bem mais precioso.
Com ela não havia tempo ruim, mulher linda, olhos grandes e azuis, mulher forte, alegre, decidida, mãe de três filhos, avó da Yasmin.

Se eu pudesse diria à ela que ela faz uma falta imensa aqui... mas que também sou imensamente grata por ter tido a sorte de ter uma mãe maravilhosa como ela.
Uma mãe que faleceu jovem, aos seus 50 anos de idade, mas que eu preferia tê-la assim mesmo a ter outra mãe que chegasse aos 80 anos.
E desde o dia do sepultamento, naquela tarde ensolarada do dia 2 de julho de 2018, já em casa deitada na cama com um sentimento profundamente negativo da perda, fui abençoada com um sentimento oposto, um sentimento de que minha mãe jamais deixou a peteca cair, jamais se entregou no sofrimento, mesmo diante de difíceis momentos. Já a vi chorar sim, mas nunca entregue naquela tristeza. Ela só não resistiu quando estava na cama do hospital dias antes de falecer, seu corpo já não mais permitia resistir, mas sua vontade de vida era imensa, jamais se entregou. E foi por este mesmo sentimento mágico de força que fui dominada naquele instante, de repente, naquele fim de uma tarde de sol, pelo sentimento de não deixar a peteca cair.

Imediatamente me levantei da cama.
Haviam louças para lavar, cama para arrumar, e uma vida a continuar.

E aqui estou desde então. Só pode ser coisa dela, talvez de Deus, mas é dela. Não pode ser humana uma força repentina como aquela.

Chorei sim, vivenciei a dor do luto, mas não me afundei nele e sou muito grata à isso.

É na presença da força da minha mãe que existe também a minha.
É me espelhando na mãe maravilhosa que ela foi que pretendo ser para Yasmin ao menos um pouco do que ela foi pra mim.


É com este sorriso e esta ALEGRIA que pretendo viver e cuidar da minha filha por toda a minha vida! E além.
Como sempre dizíamos uma para a outra: Te amo infinito...

Ela conheceu Yasmin...

Eu estava grávida de 6 meses quando minha mãe se foi.

Passei toda a minha gestação entre visitas e mais visitas ao hospital. Internada, minha mãe dizia para eu deitar com as pernas para cima em casa e tomar um chá, mas não era possível.
Mal sabia ela que eu estava numa correria imensa entre hospital e minha rotina de grávida. Mas eu fazia tudo com todo o meu coração.

Não foi uma gestação tranquila, minha mãe estava na sua pior fase física em toda a vida, com os sintomas da doença agravados.

Yasmin é forte.

Passou por tudo isso dentro da minha barriga.
Minha mãe passou por uma cirurgia de retirada dos ovários quando eu estava no primeiro mês de gestação, mas ainda não sabia que estava grávida.
Na recepção do centro cirúrgico, foi uma espera tomada por aflição e ansiedade.
Na cirurgia ocorreu tudo bem, mas mal sabíamos nós tanto da gravidez como que os sintomas da doença viriam a piorar em poucas semanas.

Ela soube da Yasmin...

Fraca, sentada no sofá da sala e com dores, ela derramou um choro forte de emoção, euforia e alegria quando disse à ela que ela seria avó.



Fizemos um bolão com a família sobre qual seria o sexo do bebê...essas são as mensagens que minha mãe escreveu lá no grupo do bolão...




Minha mãe foi a que chegou mais próxima do resultado correto! (sexo e dia do nascimento). Não houve um ganhador.

No aniversário de 50 anos da mamy dia 03/03/2018, quatro meses antes dela falecer, fizemos uma festa surpresa pra ela apenas com a família. Ela chorou de emoção assim que viu a surpresa e disse que nunca na vida teve uma festa surpresa. Ironia pensar que foi a primeira mas também sua última festa de aniversário. Compramos muitas decorações diferentes, organizanos tudo para que ela tivesse uma festa especial, mas todo trabalho valeu muito a pena!
Essa talvez seja a única foto em que Yasmin aparece dentro da minha barriga ao lado da vovó tão amada!
Eu estava grávida de 2 pra 3 meses.









Dias depois, quando descobrimos que era uma menina...


Por diversas vezes nas minhas visitas ao hospital, ela acariciava delicadamente minha barriga de uns 5 meses, com as pontinhas dos seus dedos em um movimento de fechar e abrir as mãos e dizia: "Cuida dela". Era muito especial sentir o toque das suas unhas com as pontas dos dedos. Emocionante. Eu tinha que fazer um esforço para não chorar na frente dela.
Ela disse também por algumas vezes: "Tenho que estar mais forte quando Yasmin nascer pra poder pegar ela no colo".  Assim como também disse que se ela pudesse ir no chá de bebê, iria colocar uma roupa bem linda. Daí falei pra ela não se preocupar com o chá que talvez eu nem fizesse (por tudo que estava vivendo com minha mãe, eu não tinha condições de ver nada de chá, nem ânimo e nem vontade), foi então que ela me disse pra fazer o chá sim, independente de como ela estivesse, falou que a Yasmin não poderia ficar sem chá o chazinho dela. Aquilo me doía por dentro, mas eu não tinha o direito de passar ainda mais tristeza pra ela, por isso eu procurava sorrir ao lado dela.
Depois que ela nos deixou, respirei fundo e fui atrás de tudo para o chá, vi tudo praticamente sozinha, nos meus dois últimos meses de gestação, meu irmão e minha cunhada ajudaram com algumas coisas, minha avó e minha irmã com as lembrancinhas, e meu marido claro que sempre foi parceiro em tudo.  Fizemos uma festa grande e por isso o trabalho também foi grande. O chá acabou ficando para o último mês, no mesmo mês em que a Yasmin nasceu.

Como ela falava da netinha...
Dizia pra eu tomar cuidado pra não cair, pra eu descansar. Me proibiu de subir e descer escadas.

Ela conheceu Yasmin....

Foi quando levei o vídeo da ecografia gravada pra ela ver no notebook no quarto do hospital.
A alegria dela em ver a netinha, mesmo que por aquelas imagens, era imensa!

Ela assistiu sentadinha na lateral da cama do hospital, apoiamos o notebook na mesinha onde ela fazia as refeições.

Essa foi a última vez que ela pode ver a netinha.




Quando ela perguntava que tamanho estava a Yasmin, eu comparava com o de um limão, pois era o que dizia na internet.

E fica na minha lembrança algo que ela sempre me perguntava:
"Como está o meu limãozinho? "



Dia 05/06/2018, menos de um mês antes da mamy falecer, registramos essa foto na minha casa.
Foi no dia em que levamos mamy numa consulta médica na clínica, entre os internamentos. Os médicos não imaginavam que ela iria para casa, mas conseguiu devido à uma melhora inexplicável.
Foi pra casa, mesmo assim continuou bem fraquinha, ficou pouco menos que duas semanas em casa e infelizmente piorou novamente, retornando ao hospital pela última vez.
Neste dia após a consulta na clínica, havíamos combinado de ir até a minha casa depois pra vermos as roupinhas que Yasmin ganhou até então. Foi a primeira e única vez que minha amada mãe conseguiu ver as roupinhas da netinha.



Um dia antes, 04/06/2018, eu e Ale fizemos o convite pra Paty ser a madrinha, curioso que mamy chorou muito durante o convite, emocionada em ter vivenciado aquele momento.
Entre os internamentos, ela dormiu na casa dos meus avós, pois ela precisava muito de cuidados e carinho.
Uma noite em que o Ale teve plantão aproveitei pra dormir lá, dormi no sofá cama de casal junto com ela, de mãos dadas... nessa fase ela dizia que queria apertar nossas mãos, que se sentia segura. Os sintomas da doença eram muito cruéis com ela.
Mas que bom que ela pôde sair do hospital um pouco pra viver momentos especiaias, mesmo que poucos dias com a família.

No dia em que ela nos deixou, eu segurava na sua mão esquerda quando pude ver seu último suspiro... e ouvir a última batida do coração. Sim... era como se eu pudesse ouvir.
Mix de sentimentos...
Aceitação... força... angústia... indignação pela injustiça por aquilo tudo... e mais... eu sentia muito mais sentimentos... sentimentos sem nome, indefiníveis.

Hoje só tenho a agradecer pela pessoa iluminada que tive a bênção de ter como mãe.
Ficam as lembranças tão fortes de detalhes vividos...

As sopinhas que ela preparou inúmeras vezes quando estávamos doentes.
Os lanchinhos saudáveis na lancheira pra levarmos pra escola... sanduíche com tomate... suco de laranja natural que ela fazia em casa.
As manhãs despertadas por ela... ela deitava na cama de cada um por uns minutinhos antes de se arrumar pra ir para o colégio. Era tão bom que tanto nós quanto ela, tínhamos vontade de ficar ali sem ver o tempo passar, mas o colégio esperava e a escola também era importante.
As bolachinhas caseiras que ela fazia...
Os pães caseiros... quentinhos saindo do forno.
Os beijos... os abraços...
As festinhas de aniversário que ela preparava com amor, sem reclamar do trabalho... e olha que a sujeira ficava toda em casa... não existiam buffets... ela dizia que no final, tinha brigadeiro até na cama.
As voltas e voltas de carro naquelas ruas tranquilas da praia pra ensinar a dirigir. Era tão bom aprender com ela... Era paciente, não brigava, entendia que éramos crianças (sim, eu aprendi a dirigir quando criança) e que não nascemos sabendo tudo aquilo. Só falou mais firme quando teve que puxar o freio de mão pois eu ia reto a toda velocidade direto pra valeta! Eu chorei pelo que fiz sem querer, não pela bronca leve dela.
As cestinhas de Páscoa que era fazia todo ano pra nós... fazia toda a confecção.
O tempo foi passando... e o cuidado continuando... se transformando...
Eram as noites que ela buscava e levava pra balada...
Chegávamos em casa de madrugada famintas, e quando ela estava acordada, lá estava ela feliz pronta pra ouvir nossas novidades... se tínhamos nos divertido, as músicas que dançamos... se tínhamos beijado algum rapaz, ou fazendo fofoca de alguma menina chata ou invejosa que la encontramos. E fazendo um lanche na mesa da cozinha, conversávamos, ríamos juntas madrugada a dentro.
As caminhadas na praia....
Depois veio a doença dela... e com ela consultas médicas toda semana juntas...
Viagens pra exames...
Mas também foi aí que iniciaram os brindes... com copo de água, suco ou cafezinho...
Foram muitos e muitos cafezinhos fim de tarde... não perdíamos oportunidades.
Encontros de última hora na sorveteria...
No almoço...
Na confeitaria...
Pra ver um filme com pipoca e lemon pepper no qual ela quase sempre dormia...
Ou simplesmente pra ver as lindas cerejeiras na praça.
Tudo se tornou mais intenso. Mais profundamente vivido.
Pequenos momentos tornaram-se grandes eventos.
E é assim que vivo até hoje e que espero sempre viver.



Impossível escrever todas as lembranças... São inúmeras!

Educou seus filhos de maneira leve, tranquila, sem muito rigor e grandes disciplinas. Mas sempre soube dizer não. Ela focava mais nas consequências... "vc pode fazer isso ou aquilo, mas arque com as consequencias depois"
Conclusão: eu não queria fazer coisas erradas... seja usar drogas, sexo precoce ou sem cuidados... eu simplesmente me afastava dessas coisas porque nao seria bom pra mim, e não por medo da autoridade da minha mãe. Talvez por isso eu tenha demorado mais pra dar o primeiro beijo ou ter tido a primeira vez... porque eu não queria beijar qualquer um.
Eu não me interessava por drogas, não por medo do que ela diria, mas porque eu simplesmente não queria... até porque a primeira vez que experimentei algo depois de adulta ela foi uma das primeiras pessoas a saber. Ela sempre soube.

Hoje como mãe posso dizer que li livros e artigos sobre educação, e a que mais me identifico é a educação feita por ela. E não é porque foi minha mãe, mas é porque educou com todo o coração, e tudo aquilo que fazemos com o coração é o melhor caminho a se seguir.
Sim, sempre há o que melhorar... perfeição não existe.
Ela não leu livros a respeito, pelo contrário, engravidou e desde muito cedo teve muitas responsabilidades. Jamais tercerizou, ela não gostava de deixar seus filhos com outras pessoas, mesmo que da família, pois ela dizia que a infância passa muito rápido e ela queria aproveitar aquilo tudo.
Quando criança eu assistia à novelas com ela, e nem por isso sou menos inteligente, que bom que era!
A cama tínhamos que arrumar nós mesmos.
Eu e meus irmãos éramos crianças muito educadas... todos diziam isso. Coisas simples... jamais pedimos comida na casa de visitas, sabíamos onde era o nosso lugar, mesmo tendo muita liberdade.
Ajudar nas coisas de casa, na louça e brincar  estavam em primeiro lugar. E como eu brincava. Cantava... inventava letras de músicas.... dançava... dançava muito ao som alto, ela deixava, feliz sem reclamar nada.
Eu não era nenhuma intelectual que desde bebê lia livros, e talvez isso seja muito para uma criança. Eu lia gibis, livros sobre animais, sobre astronomia com imagens das galáxias. Eu mais observava as imagens do que lia, claro. E brincava... pegava na terra, na grama, abraçava e subia nas árvores do quintal, pisava na areia, mergulhava no mar, na piscina... me sentia sereia.

Ela sempre teve uma sensibilidade maior, e isso eu sempre tive assim como ela.
Sempre fomos uma sintonia da outra, apesar de diferentes em personalidade. Eu complicava as coisas... dramatizava... ela ja era prática e descomplicada. Jamais emburrava!
E isso foi o que mais aprendi com ela nessa vida... a descomplicar... muito já melhorei... mas sempre há o que melhorar mais!
Ela tinha um sexto sentido aguçado... eu também sempre tive.
Até coincidências com borboleta já tivemos... uma delas relatei aqui no blog, até hoje não entendi qual o significado dela, qual a mensagem. E desde que ela se foi... borboletas surgiram em momentos um pouco inexplicáveis.

Uma pessoa que eu jamais imaginei perder tão cedo, aquela mãe que vc ama tanto que imaginar a vida sem ela era algo impossível, fora de questão, e veja onde a vida me levou... pra onde eu mais temia. A gente acha que nunca vai acontecer com a gente, até acontecer. E ver que uma doença ou seja la o que for não ocorre com quem merece ou quem foi sofrido. Ocorre com todos, incluindo as pessoas mais puras e boas.

Faz muita falta, o sonho dela era ser avó... dizia que queria plantar na horta com a netinha, mas sonhos as vezes ficam nos sonhos... na nuvem de algum lugar etéreo... lá ele está.
Sinto por ela não ter tido essas oportunidades... ela merecia viver tanta coisas boa ainda... curtir os netos...viagens... beijos... uma porta de carro abrindo e flores recebidas nas mãos numa noite qualquer... mais viagens... livros publicados e muitas criancinhas lendo.... mais banhos de sol e aperitivos na piscina... olhar pra montanha de neve com o verde das árvores iluminada pelo sol em Interlaken, que quando fui pra lá pensei: minha mãe tem que ver isso um dia!... Mas nem tudo é como a gente quer. Nos cabe agradecer e olhar para o que temos... para o que vivemos.

Não tenho arrependimentos...
Abracei... cuidei... dei flores... cartões... beijei... apertei... amei!

E como disse ela olhando para o altar de uma igreja vazia no meio da tarde, um dia antes de ir pra cirurgia, tão fraquinha que com muita dificuldade andava... se sentou la atras, olhou para o altar e disse com voz de alívio, como que em um suspiro: "Gratidão pela minha vida, Senhor".

Talvez qualquer outra pessoa no lugar dela iria pedir mais e mais... incluindo pra melhorar. Mas ela somente agradeceu, por tudo o que viveu.
Há sabedoria maior que essa?

Que mulher incrível... E como sabia realmente viver!

É e sempre será minha maior inspiração.