"As piras de Angel..."

Dedico este blog ao Amor e às incógnitas da vida, responsáveis pelos mais belos insights. Caminhando rumo à evolução do corpo, da mente e da alma, eternamente...

"Espíritos fortalecidos de paz deixavam de chorar, neste tempo, grandes energias passeavam aos corações. Fomos lançados ao infinito..."

terça-feira, 2 de junho de 2020

Quem cuida de nós?

Se oramos pelos outros, quem ora por nós?
Se cuidamos dos outros, quem cuida de nós?

Longe de querer algo em troca... pois assim deve ser, mas é preciso voltar os olhos para mim mesma.


São nos momentos difíceis que conseguimos visualizar e entender certas coisas.

Até que ponto abrir mão de nossas vontades mais profundas e de nossos sonhos pelo bem dos outros é o certo a se fazer?

Doar-se, fazer pelos outros, cuidar, amar.... são coisas essenciais para nos tornarmos seres mais evoluídos, altruístas e até mesmo completos. Mas até que ponto tudo isso vale mais do que a nós mesmos?

São nos momentos difíceis que conseguimos visualizar e entender certas coisas. 
E eu entendi que sempre fiz muito pelos outros, e não o suficiente a mim mesma. 

Um bom exemplo disso foi no momento da morte da minha mãe, e se eu pudesse voltar atrás nesse dia eu faria diferente.
Ela deitada na cama do hospital, já sem consciência mas com a respiração bem forte e profunda. Fiquei ali ao lado dela, segurando em uma de suas mãos, que já estavam ficando roxas. Eu só saí do quarto para conversar com a médica ou atender ao meu telefone pra falar a respeiro dela. Mas no momento em que seu coração parou de bater, o que pude ver na minha frente, eu saí do quarto para avisar a equipe de enfermagem do que já esperávamos, tentei amparar meus avós que ali também estavam, para que fosse o menos pesado possível à eles, e à todos, cuidando ao máximo daquela situação que antes eu só via nos filmes.
E então saí do hospital pra resolver coisas do velório e enterro, apesar de inconformada, eu era a mais racional naquele momento, por isso decidimos que eu iria. Sim... eu com aquela cara de choro e grávida de seis meses, tive que escolher detalhes do velório, eles fazem um monte de perguntas sobre como deveria ser... flores, o véu que vai por cima, o tipo de caixão, velas... eu respondia ao que achava melhor, mas nada disso importava... só queria sair daquela sala, mas também sabia que era necessário que fosse feito por alguém, e alguém muito próximo à minha amada mãe, eram detalhes que já não importavam mais, mas era preciso fazer.

E aqui vem o que eu deveria ter feito e não fiz... mas só hoje me dou conta disso. No momento eu nem pensei no que eu queria fazer, somente naqueles que eu amava.
Eu poderia sim ter feito tudo o que fiz, este não é o problema, o problema foi algo que não fiz.

Exatamente quando o coração dela parou de bater, eu queria ter ficado quietinha ali, do lado dela, colocar meu rosto no dela, e orar. Orar por aquela bela alma que ali já não mais estava. Era só isso, eu e ela em conexão naquele momento intenso de passagem e mudança de vida. Como uma breve meditação, conexão... ou simplesmente ali não fazer nada, só fechar os olhos e sentir, ficar. Mas eu estava longe dela espiritualmente justamente naquele momento, resolvendo coisas e cuidando dos outros. Sinto tanto por isso, aquele momento não vai mais voltar...
Até mesmo no velório eu conversei com as pessoas queridas, mas o que de fato eu deveria ter feito foi ficar quietinha me conectando à ela.

Longe de me culpar pelo que não fiz, afinal sei que em um momento intenso como aquele, a realidade fica um pouco alterada, mas é importante refletir sobre meus anseios.
Queria muito ter feito, mas não fiz.

Este ocorrido foi apenas um exemplo. Fiz tudo aquilo para que as pessoas que amo sofressem "menos", para que fosse tudo um pouco "menos" doloroso. Mas e eu? Às vezes esqueço que existe uma pessoa aqui dentro... com vontades, emoções e sentimentos.
Se naquele momento da partida da minha mãe eu tivesse feito o que eu queria, mas que naquele momento nem me dei conta disso, eu não conseguiria dar tanta atenção à minha família ali naquele quarto... são coisas incompatíveis.

Qual o certo a fazer durante nossas vidas?

No momento, talvez seja a conexão comigo mesma... no silêncio entre uma e outra batida do coração.

O outro importa sim, e muito. Diria até mesmo que é através do fato de cuidar e amar o outro que a vida nos dá um certo sentido. Mas até que ponto devemos, mesmo sem ter consciência, ignorar a nós mesmos?